segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A cadeira vazia


Uma cadeira deixada vazia pode tornar-se algo muito desconcertante, perturbador, inquietante.. Quando, momentos antes, essa cadeira era ocupada por alguém que, sozinho, conseguia encher o salão que é a nossa cabeça.
A distãncia que nos separa dessa cadeira e, consequentemente, dessa pessoa pode ser enorme, assim como os obstáculos e barreiras podem ser inúmeros. Mesmo assim, se o nosso olhar for certeiro e conseguirmos visualizar essa cadeira ocupada, tudo fica apaziaguado, sentimo-nos inabaláveis, quedos, serenos, e podemos vaguear, confiantes, pela sala partilhando a nossa atenção com outros pequenos e insignificantes estimulos.
É, portanto, fácil estarmos na nossa mesa, rodeados de ruído e pessoas, a contemplar essa cadeira ocupada. Em cada vez que a olhamos sorrimos interiormente e, sem que ninguém note, ou pelo menos assim o achamos, aproveitamos para reparar nos contornos da pessoa que a ocupa. Usufruimos de cada momento para examinar a maneira como os lábios foram desenhados, para observarmos a cor da pele, tão diferente, a cada instante. Admiramos a maneira como ajeita o cabelo, a roupa que escolheu naquele dia, a maneira como se move, o formato das mãos e principalmente gozamos da pulcritude do seu sorriso.
Até aqui, e sem a ilustrarmos, a nossa alma está conciliada, não pensamos nem projectamos o que temos que fazer amanhã ou, até mesmo, lamentamos o que deveriamos ter feito ontem. Observamos e tudo o resto é insignificante.
É então, que o desfecho sobrevem sobre nós e a cadeira é deixada nua e vulnerável. Desviamos a nossa atenção por uns segundos, e quando nos voltamos a focar no que prendeu o nosso olhar a noite toda, não sabemos mais para onde foi. Não sabemos mais onde está.
O olhar fica preso novamente mas, desta vez, a uma cadeira deixada vazia, desconcertante, perturbadora e inquietante. Ficámos presos a uma consciência de solidão, a um lugar por ocupar e a um vento enregelado e paralisante que preenche o salão que é o nosso coração.
Joana Almeida

1 comentário:

  1. Gostei do texto, assim como gosto de todas as frases que constróis e me dás a conhecer...
    Vou ficar atento a este teu espaço, ficando sempre à espera de coisas novas para me deliciar. Como aconteceu com a noticia de teres criado este espaço e ao ler este texto...

    Um beijinho*

    PS:"SÊ FELIZ!"
    =o)

    ResponderEliminar